Minha experiência subindo o vulcão Rinjani - e assim como a Juliana, também fui abandonada pelo guia na subida para o cume
Após quatro dias de tentativas de resgates no Vulcão Rinjani, sem o helicóptero conseguir chegar ao local onde estava a brasileira Juliana Marins, ela infelizmente não resistiu.
O local onde ela sofreu o acidente é arenoso e super escorregadio, e essa foi uma das grandes dificuldades das equipes de resgate, além das condições climáticas. Ela estava a 650m abaixo da borda, após continuar escorregando, sem conseguir subir ou ser resgatada.
Nos últimos 5 anos foram 6 mortes no trekking do Vulcão Rinjani, além de diversos acidentes.
Fui pra Indonésia em 2014 durante uma viagem de mochilão e fiz esse trekking do Vulcão Rinjani, foram 3 dias até chegar no cume. Tenho recebido várias perguntas sobre as condições desse trekking, então resolvi compartilhar algumas informações sobre essa experiência aqui.
E o pior: também fui abandonada pelo guia no terceiro dia do trekking, na subida até o cume, no trecho super escorregadio e dificílimo - graças a Deus, não sofri acidentes graves, apenas pequenas quedas ao longo da longa e sofrida subida.

Como é o trekking no Vulcão Rinjani
O vulcão Rinjani fica na ilha Lombok, perto de Bali, e fazer o trekking até o cume é um dos passeios mais procurados na ilha. É o segundo vulcão mais alto da Indonésia, tem 3,7 mil metros de altura.
O lago azul dentro da cratera do vulcão é a parte mais bonita do passeio – e você pode nadar nesse lago. Mas o trekking não termina aí, vai até o cume do vulcão. Ele pode ser feito em 2, 3 ou 4 dias – fiz o de três dias.

No PRIMEIRO DIA, é uma subida de 2.000 metros de desnível, você basicamente sobe o dia inteiro. Bem cansativo, mas não é um trecho exatamente difícil. E faz um calorão tropical nesse trecho do trekking.

Você termina o primeiro dia na cratera do vulcão, e acampa por lá. E aí vem a friaca! Choveu bastante e a barraca ficou toda molhada, dormi mal demais já na primeira noite.

O SEGUNDO DIA foi o melhor de todos: você tem uma vista linda do lago dentro da cratera (na chegada no dia anterior não dava pra ver muito, por causa da neblina), e nesse dia rola a descida até o lago.

Você pode tomar banho no lago, e também em uma cachoeira ali perto, que tem fontes termais logo ao lado. A melhor parte da experiência toda, sem dúvida.

Depois tem uma subida de uns 600m de desnível, para chegar até o ponto do acampamento. Neste dia dormimos super cedo, já que no dia seguinte íamos madrugar para subir até o cume e ver o sol nascer lá no alto.

O fatídico terceiro dia do trekking no Vulcão Rinjani
O TERCEIRO DIA é o fatídico: acordamos às 2h30 da manhã, numa friaca e sem nada pra comer, e já começamos a subida até o cume. Começa tão cedo assim para dar para ver o sol nascer no alto da montanha. Comecei o dia gelada, tendo dormido mal de novo, com o tênis molhado da chuva no outro dia, e morrendo de fome (eles só deram algo pra comer ao chegar no cume).

E essa subida foi um verdadeiro inferno. É um trecho muito escorregadio e arenoso, você dá um passo pra frente e sente que escorregou dois pra trás. E pra ajudar, eu não estava com os equipamentos corretos – com um tênis mega liso e sem roupas pra frio de verdade.
O detalhe é que antes de fechar o trekking com a agência, falei tudo isso pra eles, sobre a falta dos equipamentos. Como o que eles querem é vender, disseram que não tinha problema, que era de boas fazer o trekking com as coisas que eu tinha. E na época não era fácil encontrar muita informação na internet. Falta de orientação adequada total, sem nenhuma preocupação com o turista que vai fazer o trekking.
Foi um horror o terceiro dia. Eu não conseguia subir, tremia de frio, e mesmo segurando o cajado pra tentar escorregar menos, não parava de escorregar pra trás. Todo mundo foi me passando na trilha, fui ficando pra trás. E você pensa que o guia parou pra me ajudar de alguma forma? Nada, me largou pra trás mesmo, e fiquei sozinha na subida.
TODAS AS PESSOAS, de todos os grupos, me passaram, e FIQUEI SOZINHA NA SUBIDA ATÉ O CUME. E pelo visto, foi o mesmo que aconteceu com a Juliana.
Já faz 11 anos que fiz esse trekking, mas lembro do sofrimento desse terceiro dia como se fosse hoje. Quis desistir um milhão de vezes, eu chorava de raiva, tremia de frio, me sentia fraca de fome, e totalmente abandonada. Acabei conseguindo chegar ao cume nos últimos minutos possíveis pra ver o sol nascer, mais de uma hora depois do horário que o pessoal chegou por lá.
Nesse vídeo mostro um pouco do acampamento no segundo dia e da chegada ao cume no terceiro dia. Claro que não consegui gravar muito num momento daqueles. O stress emocional, junto com o físico, pesaram pra caramba.
Mas olha, realmente os guias vão na frente e a galera que pene atrás. Não tem uma preocupação com as pessoas, pra ver se estão dando conta da subida. E pouquíssima orientação ao fechar o passeio, só querem que você pague e vá, ainda que não esteja devidamente preparada pra isso. Bem complicado e perigoso.
Uma tristeza não terem conseguido resgatar a Juliana a tempo. E fico pensando em quantos trekkings mundo afora não oferecem condições de resgate em casos de acidente, e em quantas agências só querem ganhar dinheiro, e vendem passeios mesmo pra quem não tem a devida preparação.
Envio minhas orações para a família da Juliana, que compartilhou hoje no perfil @resgatejulianamarins a seguinte declaração: "Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido."
> OBS: na época fiz um relato mais detalhado sobre o trekking no vulcão Rinjani nomeu blog de viagem, o Mochilão Trips – aqui nesse link conto como foi a experiência dia a dia, e tem vídeos também.